28/10/2009

Ibeji



Os gêmeos (Ibeji, entre os yorubas, e Hoho, entre os fon) são objetos de um culto. Não são nem Orixá e nem Vodun, mas o lado extraordinário desses duplos nascimentos é uma prova viva do princípio da dualidade e confirma que existe neles uma parcela do sobrenatural, a qual recai, em parte, na criança que vem ao mundo depois deles.
Recomenda-se tratar os gêmeos de maneira sempre igual e de compartilhar com muitas eqüidade tudo o que lhes for oferecido. As precauções rituais postas em prática para assegurar a sobrevida dos gêmeos e a delimitação da desordem que eles provocam revelam a presença constante desta multiplicação. Na Nigéria, se um dos gêmeos morre, manda-se esculpir uma estatueta que o representa, vestem-na e tratam como uma criança viva. Por ocasião da morte da mãe, caberá ao gêmeo sobrevivente, ao chegar à idade adulta, cuidará sempre de oferecer à efígie do irmão uma parte daquilo que ele come e bebe. Os gêmeos são, para os pais, uma garantia de sorte e de fortuna.
No Brasil quase só se encontra essas estatuetas nos terreiros veneráveis ou em um ou outro museu, mas, através do processo de interpretação desencadeado pela imposição do catolicismo geralmente descrito sob o nome um pouco abusivo de "sincretismo", o culto do Ibeji se exprime através da devoção aos santos católicos Cosme e Damião. Em todos os templos dos cultos afro-brasileiros podem-se ver as estátuas desses dois santos, acompanhados algumas vezes de um terceiro, menor, Crispim, a tal ponto que a devoção popular acaba dirigindo-se a dois casais de gêmeos, Cosme e Damião e Crispim e Crispiniano. A influência das concepções africanas relativas à existência dos gêmeos parece preponderante, nesse caso.
A devoção ibérica aos anárgiros Cosme e Damião, cuja santidade curava mais seguramente que os remédios, veio, muito a propósito, ao encontro do culto aos Ibejis, com os quais eles se confundem na prática popular, a tal ponto que muita gente , que jamais freqüentaria um templo afro-brasileiro, faz, para obter uma graça, a promessa de oferecer balas e todo tipo de guloseimas, durante vários anos consecutivos, a todas as crianças que se apresentarem à sua porta, no dia 27 de setembro, quando se comemora o aniversário dos santos médicos.
As semanas que precedem o dia 27 de setembro, quando eles aniversariam, são marcadas, na Bahia, como também, na casa de Pai Celso de Oxalá, por festividades muito alegres, durante as quais os pratos preferidos dos Ibejis, o caruru (quiabos refogados com azeite de dendê) servido em grande gamela de madeira, colocada no chão, em cima de uma esteira. O ritual exige que as crianças comam o caruru com os dedos, a tal ponto que todas acabam se lambuzando alegremente. Os nomes dados aos gêmeos são Taiwo (Ti-aye-wo, para experimentar o mundo) e Kainde (kéhin-de, vir atrás). Algumas vezes eles recebem os nomes de Edon e Akoron e a criança que nasce depois deles é chamada Idowu.

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